Foi a minha boca quem primeiro começou a conhecer o Kenya. Quando cheguei a Mombassa já a hora de almoço tinha passado há muito tempo, e a fome era mais do que alguma. Depois de deixar tudo no hotel, corri para um restaurante, o que me pareceu ter melhor aspecto pois fui com a ideia fixa de fintar as diarreias, e comi. É uma das coisas que eu mais gosto quando viajo: comer. Sentir o sabor de novos ingredientes e alimentos, novas formas de cozinhar que são, no fundo, a forma de um qualquer povo viver. Existem poucas coisas mais ligadas a um país, ou zona, do que a comida. Come-se o que por lá sempre existiu, e em África os alimentos ainda não chegam pela televisão, e só existe um sabor igual em todo o mundo: a Coca-cola. A Fanta e a Sprite.
A imagem que guardo de Mombassa é de uma cidade excessivamente quente e húmida. Um céu carregado de nuvens, de onde a chuva cai frequentemente em momentos de puro prazer para quem caminha na rua e sente o corpo um pouco mais fresco quando mesmo a chuva é quente.
Mombassa são as crianças perdidas pela rua durante o dia e pela rua que é casa durante a noite. Que nos seguem e nos puxam com a mão em forma de concha. São mulheres que puxam também, e riem num sorriso que parece branco no escuro da noite e da pele. Uma bicicleta que passa a correr e os tuc-tuc difíceis de encontrar. O medo de encontrar alguém e o medo de encontrar uma faca.
Vendedores de frutas com bancadas de madeira carregadas de cor e sumo em pacote natural. Mulheres de turbante e homens que olham curiosos pelo medo e pela esperança.
Carrinhas lotadas que recolhem passageiros a cada paragem que efectuam. Um movimento continuo e confuso onde a ordem parece nunca existir.
Depois vem a noite e tudo é negro.