quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O barco fantasma

Isto nem é bem um post, é que eu encontrei umas fotos de que me tinha esquecido por completo, e acho que vale mesmo mostra-las. 

É um barco naufragado no meio da viagem, no meio do gelo e do nada. Uma imagem por demais surreal e assustadora. É só imaginar o que é andar dois dias de barco sem ver uma alma viva para alem dele, e depois, do nada, ver surgir, muito ao longe, alguma coisa que vem na nossa direcção, e depois cruzar com o que se pode ver nas fotografias....

Claro que existem imensas histórias e superstições em volta do barco fantasma, assim ouvi alguém chamar-lhe. Eu de supersticioso tenho zero, mas lá que foi uma visão surreal e assustadora, isso de certeza!





terça-feira, 9 de outubro de 2007

Puerto Eden

Quando, a bordo do Puerto Eden, saí de Puerto Montt, estava a cair a noite. Já depois de estar escuro, ainda pude ver algumas luzes de casas nas margens do canal em que navegávamos. Depois de jantar voltei a sair para a coberta mas já só vi escuro, a mais profunda penumbra de uma noite sem luar. Sem casa nem ruas, apenas o escuro completo que indicava a ausência de pessoas ou povoações. E assim foi durante os dois seguintes dias de viagem. Ao longo de mais de 1000 km, muitas vezes com terra de um lado e do outro do barco, não se viu uma única casa, uma rua, um sinal de civilização. Nada. Só altas montanhas, neve e gelo. Um deserto frio. Eu pensava que o barco iria directo até Puerto Natales, só a conversar com a mãe da minha simpática amiga Bi é que eu percebi que não, o barco iria parar, um dia antes de todos desembarcarmos, numa pequena povoação isolada de quase tudo: Puerto Eden, o nome do barco.

A mais de um dia de viagem de Puerto Natales, a povoação mais próxima, Puerto Eden é visitada uma vez por semana pelo barco em que eu viajei, o único barco local a atravessar aquelas paragens, para alem dele só um ou outro cargueiro. Por isso no porão do Porto Eden viajava um pouco de tudo. Quando nos aproximamos da povoação subi, como toda a gente, para poder ver bem a pequena aldeia com cerca de 150 habitantes, literalmente plantada nas margens daquelas águas geladas. Quando o barco parou, vimos uma série de pequenos barcos e botes que depressa se dirigiram para nós. Não consegui conter a curiosidade e fui para uma zona que me estava proibida, a zona em que descarregaram a mercadoria destinada a Puerto Eden, e por onde saíram também as duas únicas passageiras com este destino. Havia de tudo: caixas grandes e pequenas, muitos bidões com combustível, madeiras e outros materiais, fruta e vegetais, muitos, e caixotes que não consigo sequer imaginar o que continham. Disseram-me que em outras alturas do ano o barco também transporta animais vivos para Puerto Eden.

Foi aí que registei também uma das imagens mais ternas de toda esta viagem, no momento em que a Bi e a mãe chegaram a essa zona e a Bi, muito antes de abraçar o pai, corre, numa alegria difícil de descrever, para abraçar o irmão, um pouco mais velho do que ela. Não se viam à duas semanas, desde que a Bi e a mãe se viram obrigadas a deslocar a Puerto Montt para tratar de um assunto qualquer. Fiquei com a sensação que qualquer que fosse o assunto elas teriam sempre de lá ir. O pai da Bi está destacado pela policia em Puerto Eden, e a família teve de o seguir. Fiquei com a sensação que qualquer assunto é um bom assunto para uma pequena ausência. Para um sitio onde seja possível correr...

Após a descarga de tudo, embarcaram três ou quatro passageiros com destino a Puerto Natales. A Bi foi para terra num pequeno bote e tão entretida estava com o irmão que nem olhou para trás para me dizer adeus. Ainda bem. Era quase noite e na manhã seguinte a viagem acabou em Puerto Natales.











terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cá pela terra

Pois, como é fácil de imaginar pela ausencia de novos posts, já estou por casa, mais do que isso, estou em casa, e sem planos para viagens próximas. A próxima será apenas em Novembro, ainda não sei como vou aguentar tanto tempo por cá, quando irei alguns dias para Barcelona com a Marta. Finalmente uma viagem juntos.
E pronto, isto é o mesmo que dizer que por agora vou ficar por aqui quietinho, o que faz todo o sentido: passei toda a primavera e verão por fora, agora que chega o Outono e as chuvas, eu vou ficar quietinho por cá. Aliás, estava eu na Patagónia com temperaturas negativas, e sabia que por cá fazia um calor que não se podia estar senão na praia e dentro de água!!! Ok, talvez seja exagero, mas estava quente, muito quente, enquanto eu andava com o lenço no nariz e o corpo coberto por 7 camadas e meia de roupa. 
Mas daqui até Novembro vou postar as viagens que ainda estão na gaveta, e que há muito tempo eu quero colocar on-line. Quando acabar a remodelação do nosso escritório, que desde que mudamos de casa  nunca chegou de facto a existir, vou postar as imagens das Filipinas e África, principalmente da Ilha de Moçambique, o local onde estive que mais me marcou. Por isso espero que arrumemos o escritório bem depressa. para que depois de muitos pregos e parafusos, e um emaranhado imenso de cabos, imagino que no céu todos os periféricos sejam wireless, também eu possa ver as fotografias que ainda não vi, tal tem sido o ritmo nos últimos meses. 
E só para acabar deixo aqui uma fotografia que me lembra muitas saudades, da minha amiga Bi, que fez comigo a viagem no Puerto Eden. A Bi mora na pequena aldeia que dá nome ao barco em que viajei, uma aldeia com cerca de 150 pessoas e isolada de todo o mundo. Para lá chegar só de barco, e é mais de um dia de viagem desde a cidade mais próxima.
São muitas as histórias bonitas que ficaram ainda por contar desta viagem pela Patagónia. Ver a alegria nos olhos de uma miúda tão querida no momento em que viu o irmão com quem não estava há duas semanas é um momento difícil de partilhar. Perceber a vida de uma aldeia tão isolada... Bem, acho que tenho assunto para um outro post e devo ter algumas fotografias também, o melhor é tratar disso. Começo a gostar de recordar.
N.B. - As marcas vermelhas na minha testa são queimaduras provocadas pelo frio. Com um vento gelado eu não resisti a ir para a coberta fazer algumas imagens que que não podia perder.... Valeu a pena ;)