Não poucas vezes ouvi dizer que África tem um cheiro especial, um sentimento diferente. O sentimento é imediato, no momento em que se sai do avião. O cheiro comecei a sentir quando saí do aeroporto. Um odor doce parece circular no ar. Um cheiro a erva ou mato, um cheiro a calor, um cheiro diferente. Um cheiro que só depois percebi ser do repelente que eu tinha espalhado, besuntado, pelo corpo logo depois de aterrar. Realidade ingrata que me matou a beleza da ficção.
Era manhã cedo, eu tinha acabado de aterrar em Nairobi, a capital do Quénia. Sozinho, saí do aeroporto onde uma multidão de carregadores e ajudadores me esperava, quase em furia. Furei por entre as centenas de mãos prontas para uma ajuda. Mão pretas. Senti-me então, pela primeira vez, completamente fora do meu país. Na Europa sinto-me como em Portugal (excepção feita a Génova). A Europa é um Portugal maior.
Quando cheguei cá fora já as minhas roupas estavam coladas ao corpo. O calor e a humidade abriram todos os meus poros. O céu encoberto era um preludio das tempestades que tinham atingido o país nas semanas anteriores e que provocaram estragos e vitimas. Muitas estradas estavam ainda alagadas, e por isso e tinha de apanhar um outro avião para chegar aquele que era o meu destino: Mombasa, a cidade mais portuguesa do Quénia.
Esta viagem era feita de uma pequena gare logo ao lado da gare maior onde eu desembarquei. Fica desde já a mensagem: estas são paragens a evitar por quem tem alguma espécie de receio em viajar de avião ou, simplesmente, é facilmente susceptível. Ainda antes de entrar no avião, o primeiro pequeno choque é quando se chega aos aeroportos, mas sobre isso falarei em outro post.
Após ter feito o check-in das bagagens sobravam-me mais de 2 horas de espera. Fui então para um pequeno bar reconfortar o estômago da comida ensacada do avião, dos ingredientes sem nome. E fique sentado quase duas horas aí. A ler Mia Couto imaginando como seria o Moçambique que eu iria encontrar daí a uma semana. Olhando e percebendo como é que a vida de alguém pode ser tão diferente da minha.
Entre Nairobi e Mombasa passei junto ao monte Kilimanjaro. No meio das nuvens uma imponente montanha ergue-se como nada que eu alguma vez tinha visto. Essa é uma das imagens mais fortes da minha vida.