quarta-feira, 28 de maio de 2008
Mais Tom Waits
Tom Waits na Europa
segunda-feira, 19 de maio de 2008
A Ilhas de Moçambique
No passado sábado pude ver as imagens que fiz à quase um ano atrás, quando andei 15 dias pelo Quénia e Moçambique.
Pensava que nunca mais iria publicar nada sobre essa viagem, o que me dava grande pena pois lembro-me ainda bem das fotografias que tenho, especialmente da Ilha de Moçambique, essa ilha com 3,5 km de comprimento e 500 metros de largura mas que carrega mais história e vida do que muitos países inteiros. Principalmente vida. Soube-me bem ver o programa e recordar a vida que aquela ilha carrega. Ver o miúdo com a raia gigante na cabeça, lembrar-me dos peixes coloridos e do marisco delicioso. Mas foi também rever a pobreza. É incrível como no mesmo programa se conseguiu ver Mombaça, que consideraríamos logo como uma cidade muito pobre, e logo depois a Ilha de Moçambique, tão pobre que não pode sequer ser comparada a Mombaça. Mas é claro, se quisermos procurar, ainda é possível encontrar lugares mais pobres ainda. Mas não é esse o objectivo. Prefiro lembrar-me das cores e das inúmeras crianças, com o pé descalço e a camisola rota mas sempre com um sorriso branco e feliz que sobressai na cara preta. Miúdos sempre dispostos a ajudar ou a dar uma corrida. O Jorge, que pode ser visto numa das fotografias com uma camisola vermelha e um sorriso aberto, foi o nosso guia durante todos os dias na Ilha. Impôs-se como nosso guia por entre pelo menos 30 crianças candidatas ao lugar. Impôs-se pela inteligência, deixava-nos respirar dos apertos para depois não nos largar, mas sempre de uma forma subtil. Fazia-o, como todos os outros, pelas pequenas “ajudas” que lhe dávamos.
Mas sentiamos-nos bem e seguros. Ao contrário de Mombaça onde, para entrar com mais segurança na cidade velha, deixamos que o Manzu nos acompanhasse e guia-se, na Ilha sentiamo-nos como em casa, quase mesmo em casa, não fosse ali faltar tudo. A Ilha de tão pequena torna-se num pequeno bairro, não vale a pena fugir a ninguém pois não há para onde fugir, só para quem vai embora da ilha. Também não há carros para quem quer fugir depressa. Quando muito algumas motas cortam as ruas onde deambulam pessoas e poucas bicicletas.
Deve de ser por isso que demora tanto tempo a entrar na ilha. Tempo é ali mesmo a palavra chave. Como o Gonçalo muito bem descreveu num pivot do programa, primeiro sentimos que nos enganamos, que aquele não é o sítio, parece um outro planeta, depois compreendemos o tamanho da Ilha, e então a Ilha é o mundo, e sendo o Mundo, não vale a pena sair dali.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Nos passos de Magalhães
terça-feira, 25 de março de 2008
Viagem ao passado (felizmente passado)
Como não paro de receber cartas de pessoas que reclamam eu passar muito tempo sem postar neste blog, aqui fica um pequeno post. E como as pessoas não deixam de me abordar na rua para dizer o quanto gostaram dos meus posts com vídeos sobre música (como podem ver a minha vida é carregada de fama, tirando o blog onde não recebo comentários, à minha volta é só azáfama).
Vou fazer uma pequena viagem ao tempo em que Mick Jagger usava camisas verdes metidas dentro de calças azuis em balão. O tempo em que David Bowie saltava e "dançava" ao lado de Jagger. Este é um daqueles vídeos que quem já se esqueceu não vai nem acreditar. Um tempo que já foi e, esperemos, não volta mais.
Uma pergunta só: porque estão Mick Jagger e David Bowie, dois muy respeitados senhores, a ter ataques epilépticos e a gritar na rua? Um desafio de lógica para as actuais gerações.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Os tuc-tuc de Mombassa
Pelas ruas de Mombassa, por entre cheiros e cores, um som que não cessa fica no ouvido.
Tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, tuc-tuc, Em todos os locais e para todas as direcções, os tuc-tuc são o transporte mais seguro, e quase único, o transporte público oficial. Uma colorida e divertida alternativa aos táxis bem mais caros. Por pouco menos de meia bagatela é possível chegar a qualquer local de Mombassa, de forma rápida. A diversão começa no momento em que o tuc-tuc para e se regateia o preço da viagem. Depois é entrar e gozar o vento no corpo quente. Sentir os as pedras e os buracos na estrada, bem agarrado para não saltar fora.
Não sendo uma cidade muito grande, longe disso, Mombassa sofre do mesmo problema que muitas outras cidades na zona em que se encontra. Estradas e rua precárias, ausência de uma qualquer política de transportes, e um claro problema de mobilidade.
Pelas ruas que dão acesso à cidade as fileiras de gente que caminham é muito superior ao transito de tuc-tuc. Por isso se diz que os pobres não teem pressa, porque caminham. Os precários tuc-tuc são, ainda assim, para os que tem a sorte os conseguir pagar. Como tudo em todo lado, com a diferença que aqui a bitola está colocada num nível muito próximo do zero.
(Faltou dizer que os tuc-tuc são pequenas motorizadas Paigio cobertas e com dois lugares atrás. Mas que interessa?)
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
A lição de Manzu
Tal como eu expliquei no primeiro post sobre Mombassa, o Manzu foi o meu guia pelas ruas de Mombassa, e foi com ele que eu aprendi uma importante lição.
Estávamos a ver alguns miúdos a nadar numa espécie de foz de rio em Mombassa, uma foz larga mas onde o rio não chega, é o mar que entra. Eu perguntei ao Manzu porque estavam os miúdos a nadar de um lado ao outro, era uma distancia ainda grande, e ele explicou-me que estavam a treinar para uma importante prova anual de triatlo. Quis depois ele saber se eu sabia nadar, ao que respondi que sim, que sabia. Ele quis saber se eu vivia perto do mar. Vivo, e ele disse que então é normal, pois todos os que vivem junto ao mar devem saber nadar. Expliquei-lhe que não apreendi a nadar no mar, mas sim em piscinas, até porque o mar na zona onde eu moro é muito perigoso, e eu até prefiro nadar no rio. Ficou muito espantado.
- No mar é perigoso e tu nadas no rio?! Isso é porque lá vocês não tem crocodilos...
O que é um facto, e uma linda lição também. E eu, pelo sim pelo não, olhei para os lados e tratei de andar sempre bem longe da água.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
A viagem e os headphones
A vida é diferente quando se ouvem os Beatles. Ou o Bob Dylan. Os Rolling Stones ou o Jorge Palma. O Tom Waits e a Jollie Holland. Especialmente esta última. Tal como num filme, a banda sonora consegue mudar por completo o sentimento do momento. Para quem gosta, é difícil dissociar o Perfect Day do Lou Reed com a overdose do Trainspotting. O Trainspotting seria um filme completamente diferente sem banda sonora. O Fabuloso Destino de Amélie não teria sido amado por ninguém sem a música do Yann Tiersen. No Ondas de paixão do Lars Von Trier a música funciona, também, como um intervalo, um momento em que se pára a vida para olhá-la como que através de uma janela, uma pausa no relógio que faz o tempo girar. Curiosamente, só o vento não para nunca.
Sinto o mundo como um gira discos que nunca para. Gira sem parar. Agora dia depois noite e depois dia. Sempre a girar, uma música constante, muda de faixa mas a música não pára nunca.
Ás vezes paro para ouvir as músicas que não ouço faz muito tempo. Músicas de outros tempos. Sento-me e chega o que já lá vai, cheiros de um dia, frio e calor sem sair de onde estou ou desligar a ventoinha. É uma viagem no tempo. Fechar os olhos e escutar o grito do David Bowie, sentir que tenho menos 15 anos e que tudo é novo e estridente. Mudar o disco e ouvir o trompete de Miles Davis no Tributo a Jack Johnson. Saber que tudo aconteceu antes de nascer, não ter nunca conhecido Jack Johnson mas sentir que o trompete soca violentamente, como um herói, um adversário presente na luta.
Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn't you?
People'd call, say, "Beware doll, you're bound to fall"
You thought they were all kiddin' you
You used to laugh about
Everybody that was hangin' out
Now you don't talk so loud
Now you don't seem so proud
About having to be scrounging for your next meal.
How does it feel?
À poucas semanas vi O tigre e a neve do Roberto Benigni. Não é um filme extraordinário, bem longe disso, mas é possível não tremer num filme que começa num sonho? Um sonho de um belo casamento numa ruína e com a voz doce de Tom Waits a cantar You can never old back spring? You can never old back spring! Não é a letra, é a música, a música. Ouvimos um soneto que nos faz chorar cinco minutos mas que nunca mais lembramos, ou lembramos pouco. Ouvimos uma música que nos apaixona, sem letra e sentido nas palavras, mas uma melodia que faz chorar rir ou simplesmente vibrar. Um melodia que não sabemos transpor para uma pauta, uma melodia que por vezes nem cantar se consegue, mas que se repete por dias na cabeça, no ouvido interno que por certo é para isso que serve. Trinta anos depois ouve-se o primeiro acorde apenas e logo desatemos a cantar toda a música.
Solo de uma guitarra….
Entra uma bateria, um baixo…
A vóz rouca com uma segunda guitarra
Yeah, you got satin shoes
Yeah, you got plastic boots
Y'all got cocaine eyes
Yeah, you got speed-freak jive
Can't you hear me knockin' on your window
Can't you hear me knockin' on your door
Can't you hear me knockin' down your dirty street, yeah
Help me baby, ain't no stranger
Help me baby, ain't no stranger
Help me baby, ain't no stranger
Rolling Stones, Can’t you hear me knoking. É a guitarra que não me sai a cabeça. O louco ritmo que se repete por toda a música. Um rock and roll puro que de repente se transforma numa espécie de Jazz que se prolonga por mais de 7 minutos, sete minutos que se repetem, lá está, no ouvido interno. E depois o Saxofone…
Lembro-me de alguém que um dia me disse que o o jazz é um conjunto de músicos num processo masturbatório com instrumentos: cada um por sí e consigo. Foi um cometário jocoso e depreciativo, acho que a ideia não me agradou, mas quem é que não consegue encontrar alguma nuance de prazer num acto tão natural ao ser humano? O jazz não é isso, obviamente, numa metáfora sexual acho que seria mais uma orgia longa e em climax constante. Porque se deixam envolver, se deixam correr.
Quando eu morrer queria ser enterrado com um ipod, just in case... Acho que nessa altura, daqui por muitas décadas, a capacidade será de muito terabytes. Podem gravar-me discografias completas, aposto que vai dar. Para além dos já citados em cima incluam, por favor: Ali Farka Toure, Al Green, Ana Moura, António Pinho Vargas, Antony and the Johnsons, Astor Piazolla, Baden Powell, Beck, Bernardo Sasseti, Bill Frisel, Beth Gibbons, Carlos Bica, Charlie Parker, Chick Corea, Celso Fonseca, Charlie Chaplin, Chico Buarque, Daniel Lanois, Django Reinhardt, Don Byron, Esbjorn Svensson Trio, Franz Schubert. Mulato Astaqé, Fatboy Slim, Gabriel o Pensador, Gaiteiros de Lisboa, Iva Bittova,Jack Johnson, João Gilberto, John Coltrane, John Legend, Josh Rosue, Lhasa, Madredeus, Mão Morta, Marcos Valle, Mário Laginha, Mark Lanegan, Mozart, Nina Simone, PJ Harvey, Portishead, Radiohead, Rodrigo Leão, Schumann, Sérgio Godinho, Sigur Rós, The Animals, The Cinematic Orchestra, The Divine Comedy, Tom Jobim, Tom Zé, Wim Mertens, Zé Miguel Wisnik e, pelo amor de deus, não se esqueçam do terceiro movimento da sonata nº 2 para piano em si bemol menor, op. 35 de Frédéric François Chopin, a marcha fúnebre, para o caso de eu querer dar um ar mais lúgubre ao meu caixão.
É claro que me esqueci de muitos..., podem passar músicas à vontade, eu não me importo.
Porque ouvir também pode ser viajar...
You can never hold back spring
You can be sure that I will never
Stop believing
The blushing rose will climb
Spring ahead or fall behind
Winter dreams the same dream
Every time
You can never hold back spring
Even though you've lost your way
The world keeps dreaming of spring
So close your eyes
Open you heart
To one who's dreaming of you
You can never hold back spring
Baby
Remember everything that spring
Can bring